Artigo: Escola Parque e Escolas Classes
Por: Edivaldo M. Boaventura
Educador, escritor, presidente da Academia de Letras da Bahia
Quando comemoramos o milagre dos 60 anos de funcionamento da Escola Parque, recordo uma frase definidora sobre Anísio Teixeira: “Ele tinha um braço preso ao cérebro.” E tinha mesmo! A sua fulgurante inteligência o conduziu à execução de suas ideias. Era um dos aspectos de sua personalidade que mais me tocavam. A concepção da Escola Parque, combinada com as Escolas Classes, comprova a sua capacidade teórica e prática.
Concebeu com o arquiteto Diógenes Rebouças um espaço amplo, arejado, verde, com biblioteca, auditório, anfiteatro, oficinas, salas para jogos e artes. Em outra oportunidade, a capacidade de realização marcou a sua direção no Inep (Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos), que depois o tomou como patrono, com muita justiça.
A criação do Centro Educacional Carneiro Ribeiro (CECR), denominação em homenagem ao grande educador baiano, é uma contribuição notável à escola pública, gratuita, de qualidade e de tempo integral, edificada, propositadamente, em um bairro pobre, como a Caixa D'Água, na Liberdade.É a escola pública para todos, independentemente de classe e de raça, de dois turnos, formadora da cidadania, que encontramos nos países ricos, liberais e capitalistas e que proporciona instrução, transporte, livro, acomodação e alimentação aos alunos. Por que a escola pública de tempo integral tornou se uma bandeira da esquerda no Brasil? É difícil de compreender.
O discurso inaugural da Escola Parque, em 21 de setembro de 1950, é uma demonstração do seu pensamento publicista e democrático. Anísio planejou um centro popular de educação primária com o dia letivo completo. E foi incisivo: “A questão é sobre a escola e não a educação. É sobre a escola que o ceticismo nacional assesta os seus tiros tão certeiros e eficazes. O brasileiro não acredita que a escola eduque. E não acredita, porque a escola, que possuiu até hoje, efetivamente não educou.” Para ele, era o começo de um esforço pela recuperação da escola primária: “Desejamos dar, de novo, à escola primária, o seu dia letivo completo. Desejamos dar-lhe os seus cinco anos de curso. E desejamos dar-lhe seu programa completo de leitura aritmética e escrita e mais ciências físicas e sociais, artes industriais, desenho, música, dança e educação física.”
A Escola Parque destinava-se à infância abandonada que não tinha pais. E se possuía pais não era um lar onde pudesse ser educada. Aparentemente tinha escola, na realidade eram simples casas “em que as crianças eram recebidas por sessões de poucas horas, para um ensino deficiente e improvisado”. A Escola Parque, inaugurada pelo governador Octávio Mangabeira, em 1950, objetivava o tempo integral com pleno funcionamento em dois turnos. Um primeiro turno mais voltado à instrução e outro à recreação com jogos, biblioteca, teatro e oficinas, pois a planta concebida possibilitava a ocupação diária da criança.
A concepção da Escola Parque incluiu as Escolas Classes. A Escola Parque forma um conjunto de edifícios centrais com atividades sociais e artísticas, atividades de trabalho e de educação física. Enquanto a Escola Classe se constitui de salas de aulas planejadas para o ensino de letras e ciências com dependências para administração e atividades complementadas e integradas na Escola Parque.
A direção do Inep permitiu ao criador da Escola Parque completar o seu projeto arquitetônico.
Como um verdadeiro sistema nacional de pedagogia, este organismo atuou em quatro estados. Na Bahia, possibilitou que a Escola Parque funcionasse eficientemente com recursos financeiros sob o comando enérgico e dedicado de D. Carmen Teixeira. Uma vez desativado o Inep nos estados, a Escola Parque passou para a Secretaria Estadual de Educação (SEC), que a administra com esforços. Para a Bahia, a Escola Parque é um marco, um símbolo da obra anisiana, uma bandeira da educação pública de tempo integral. Assim, a Secretaria que a mantém pôde comemorar os seus 60 anos tendo à frente o secretário Osvaldo Barreto Filho e o diretor Gedean Ribeiro com a vibrante comunidade escolar.
Fonte: A Tarde